Início Psicologia Simbólica Junguiana Self e Arquétipo Central | Psicopatologia Simbólica – Parte 2

Self e Arquétipo Central | Psicopatologia Simbólica – Parte 2

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Eixo Ego-Self e Eixo Simbólico

Jung denominou Self à totalidade psíquica consciente-inconsciente, e também ao principal dos arquétipos, fato que confunde as explicações do desenvolvimento e do funcionamento da Psique.




Portanto, emprego Self para designar a totalidade consciente-inconsciente, e Arquétipo Central para o principal dos arquétipos.

Esta mudança transforma o Eixo Ego-Self, de Neumann, no Eixo Ego-Arquétipo Central, ou, simplesmente, Eixo Simbólico.

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Através das funções elaboram-se os símbolos

Compreendendo o conceito de função como toda e qualquer força operativa na Psique, postulei que as funções são coordenadas por arquétipos e veiculam a elaboração dos símbolos, cujos conteúdos formarão a identidade do Ego e do Outro (os objetos da Psicanálise) na Consciência. Nesta concepção, o centro operativo do Eixo Simbólico transforma o processo de elaboração simbólica na principal atividade psíquica para formar a Consciência (Byington, 2002).

Símbolos e Funções Estruturantes





A elaboração simbólica é sempre coordenada pelos arquétipos e, em última análise, pelo Arquétipo Central, o que torna todos os símbolos e funções estruturantes expressões permanentes da totalidade do Self. Considero, assim, a abordagem proposta por Jung como símbolo-centrada. Nem ego-centrada, nem arquétipo-centrada, pois é o símbolo, e não o Ego e nem o Arquétipo, o denominador comum de todas as polaridades, inclusive Consciência-Arquétipo Central, consciente-inconsciente, normal-patológico, individual-coletivo, puer-senex, homem-mulher, Eros-poder, vida-morte e normal-patológico.

Dimensões Transindividuais do Self

O Arquétipo Central coordena símbolos e funções estruturantes para formar tanto a Consciência Individual quanto a Coletiva dentro do Self Individual e do Self Grupal, que pode ser Self Terapêutico, Self Familiar, Self Cultural, Self Planetário ou Self Cósmico.

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Quatro Arquétipos Regentes

Devido à importância fundamental dos Arquétipos da Grande Mãe e do Pai, formulados por Neumann para a formação da Consciência, nomeei-os Arquétipos Regentes da elaboração simbólica (Byington, 2004).

Arquétipo da Grande Mãe e Arquétipo Matriarcal

Arquétipo do Pai e Arquétipo Patriarcal

O processo de individuação na modernidade vem demonstrando que os papéis históricos atribuídos ao homem e à mulher não coincidem necessariamente com a natureza de cada pessoa. Assim, os adjetivos masculino e feminino passam a ser fonte de grande confusão semântica para descrever a individuação. Ao perceber que o Arquétipo da Grande Mãe existe também na personalidade do homem e o Arquétipo do Pai, na da mulher, mudei sua denominação para incluir os dois gêneros. Passei a chamá-los de Arquétipo Matriarcal para designar o arquétipo da sensualidade, e Arquétipo Patriarcal para nomear o arquétipo da organização, ambos presentes na personalidade do homem e da mulher e em todas as culturas em combinações variáveis.

Este passo mostrou-se importante para vincular o desenvolvimento arquetípico às neurociências, pois o Arquétipo Matriarcal, como o arquétipo dominante da sensualidade, da imagem e do desejo, pode ser associado ao hemisfério cerebral direito, ao sistema límbico e ao sistema neuroendócrino-vegetativo, enquanto que o Arquétipo Patriarcal, como o arquétipo dominante da organização, do poder e da abstração, pode ser relacionado ao hemisfério cerebral esquerdo e aos sistemas volitivo-sensório-motor e associativo cortical.

Arquétipo da Alteridade e Arquétipo da Totalidade

Posteriormente, descrevi mais dois Arquétipos Regentes, acrescentados aos Arquétipos Matriarcal e Patriarcal para, juntos, coordenarem toda e qualquer elaboração simbólica. São eles o Arquétipo da Alteridade e o Arquétipo da Totalidade. A elaboração simbólica é invariavelmente feita pelo Arquétipo Central e pelos quatro Arquétipos Regentes e, circunstancialmente, pelos demais arquétipos.

Polaridade Ego-Outro como centro da Consciência




 

A Psicologia Simbólica Junguiana assume a teoria das polaridades também na própria Consciência, situando em seu centro a polaridade Ego-Outro. O Ego é formado pelo conjunto de representações do sujeito. As representações do Outro, do não-Ego, não são aqui consideradas “objetos introjetado no Ego ou no Self de fora para dentro”, pois sua identidade é concebida tendo a mesma origem que a do Ego, ou seja, a elaboração simbólica que, através das funções estruturantes da projeção e da introjeção, forma a Consciência.

A descrição das cinco posições Ego-Outro na elaboração simbólica completa a relação da Consciência com o Arquétipo Central e com os quatro Arquétipos Regentes, formando a moldura simbólico-arquetípica do desenvolvimento. A polaridade Ego-Outro pode ser fixada junto com os símbolos e funções estruturantes e formar a Sombra (gráfico no final).

Cinco posições arquetípicas da polaridade Ego-Outro

A concepção da articulação da Consciência com o Arquétipo Central através dos símbolos e funções estruturantes na elaboração simbólica é muito aperfeiçoada na descrição do desenvolvimento simbólico-arquetípico normal pelas cinco posições arquetípicas da polaridade Ego-Outro na Consciência (Byington, 2004).

Posição Indiferenciada (Arquétipo Central)

A elaboração simbólica principia pela posição Ego-Outro intensamente indiferenciada quando um símbolo é constelado. Foi chamada de urobórica, por Neumann, inspirada na imagem do dragão que morde a própria cauda, símbolo da continuidade entre o início e o fim.

Posição Insular (Arquétipo Matriarcal)

Segue-se a posição insular, correspondente ao Arquétipo Matriarcal. O Ego e o Outro reúnem-se intimamente em ilhas na Consciência pelo desejo, sensualidade e fertilidade. Forma-se uma relação diádica, empática, simbiótica, de causalidade mágica, chamada de participação mística, por Levy-Brühl, ou processo primário e inconsciente do desejo, pela Psicanálise. Esta posição é binária porque o Ego se relaciona dominantemente com um só pólo de uma polaridade em cada ilha da Consciência. Numa, pode manifestar agressividade, e logo depois, noutra ilha, afetividade com a mesma pessoa, sem que isso signifique um split. A passagem de uma ilha para outra ocorre exclusivamente pelo desejo de satisfação ou pela frustração do momento. A intimidade da polaridade Ego-Outro aproxima muito os pólos consciente-inconsciente, em função do prazer e da sensualidade, das funções do sentimento, da intuição e da sensação, dentro de uma mentalidade habitualmente pré-verbal, imagética e característica do hemisfério cerebral direito.

Posição Polarizada (Arquétipo Patriarcal)

Segue-se a posição polarizada, correspondente ao Arquétipo Patriarcal. Nela a Consciência opera de maneira ternária, porque o Ego se relaciona simultaneamente com ambos os pólos das polaridades. Relaciona-se o que é certo e o que é errado, o que é bonito com o que é feio etc. Esta posição expressa basicamente a organização e sua tônica é a causalidade reflexiva, ligada à tarefa, ao poder, ao perfeccionismo, à culpa e ao repúdio ao erro e ao fracasso.

Exerce-se, sobretudo pelo hemisfério esquerdo e toda a circuitaria cerebral consciente, e subordina as funções da sensação, da intuição e do sentimento ao pensamento.

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A Polaridade Matriarcal-Patriarcal é Permanente





Apesar de o Arquétipo Matriarcal preceder o arquétipo Patriarcal na elaboração simbólica, eles são inseparáveis e permanecem sempre juntos, mesmo quando um ou outro se torna dominante.

Posição Dialética (Arquétipo da Alteridade)

A quarta é a posição dialética do Arquétipo da Alteridade, propiciadora do relacionamento simétrico do Ego e do Outro, cada um incentivado a expressar o mais profundo e verdadeiro de si mesmo. Ela é quaternária porque o Ego, tanto quanto o Outro, pode reivindicar o certo, mas pode igualmente reconhecer seu erro. Trata-se de uma relação difícil de se apreender só racionalmente, pois sua essência é o princípio da sincronicidade, que relaciona as polaridades não pelo desejo ou pela causalidade, mas pela imprevisibilidade da vida. No sistema nervoso, está em toda a circuitaria que reúne polaridades como, por exemplo, na decussação das pirâmides, no quiasma ótico, na adenoneurohipófise e no corpo caloso com sua função intermediadora dos hemisférios cerebrais. Seu funcionamento na matéria viva foi descrito por von Bertalanffy no princípio de múltiplo retorno, que relaciona dialeticamente os opostos, como, por exemplo, no sistema neuroendócrino. Esta posição da Consciência é inerente ao princípio da sincronicidade e aos conceitos de psicóide e de unus mundus formulados por Jung, e é a essência da mensagem simbólico-arquetípica da sua obra.

A posição dialética do Arquétipo da Alteridade, por ser quaternária, favorece maior produtividade da elaboração simbólica, capaz da criatividade mais profunda, como na arte, ciência, sociopolítica, religiosidade e no amor. Necessitamos desta posição para compreender a relação da normalidade com a patologia, ou seja, da Consciência com a Sombra (o sintoma) dentro da dimensão simbólico-arquetípica. Na interação quaternária da Consciência com a Sombra pode-se reconhecer as virtudes e as limitações de uma e de outra. Para a Consciência, virtudes são conteúdos manifestos com clareza e limitações são aqueles ainda inconscientes; para a Sombra, as virtudes residem no valor dos símbolos estruturantes que abriga, e as limitações estão nas defesas que os fixam, deformam e os expressam inadequadamente, tornando-a sempre patológica e a sede do Mal.

Posição Contemplativa

A última posição da elaboração simbólica é a contemplativa, correspondente ao Arquétipo da Totalidade. Nela o Ego e o Outro se reaproximam e esmaecem outra vez na unidade para a Consciência vivenciar o Todo. Ela encerra a elaboração simbólica, quando o conteúdo simbólico integra-se na Consciência e participa da sua noção de verdade e de realidade.

As cinco posições arquetípicas da relação Ego-Outro descrevem a mandala evolutivo estrutural que a lendária alquimista Maria Profetissa, famosa pelo “banho-maria”, formulou: “O um se transforma no dois, o dois no três, o três no quatro, e este, novamente no um”.

A Dimensão Pessoal também é arquetípica

Por desconhecer a formação do Ego pelos arquétipos, Jung considerou o inconsciente reprimido e os símbolos pessoais como não arquetípicos. Porém, ao sabermos que os arquétipos formam o Ego através dos símbolos e funções estruturantes, temos que admitir que todos os símbolos da Psique, inclusive os pessoais, têm sempre um componente arquetípico, a começar pelos símbolos da mãe e do pai. A polaridade pessoal-arquetípico expressa um erro conceitual e, por isso, deve ser abandonada e substituída pelas polaridades pessoal-coletivo e normal-defensivo (reprimido), ambas arquetípicas e dentro do Self. Da mesma forma, a denominação de Psique objetiva para designar a dimensão arquetípica é igualmente imprópria, pois os arquétipos somente se expressam através dos símbolos que abrigam sempre a polaridade subjetivo-objetivo.

Quatro dimensões do inconsciente

A não diferenciação entre o inconsciente reprimido e o não reprimido no indivíduo e na cultura tem originado imensa indiscriminação semântica na literatura junguiana, pois Jung empregou o adjetivo arquetípico, em praticamente toda sua obra, como sinônimo de coletivo.

Assim, quando nos referimos ao inconsciente reprimido, tendemos a limitá-lo à dimensão pessoal, sem perceber que o inconsciente coletivo também pode ser reprimido. Não devemos confundir o inconsciente coletivo reprimido com o inconsciente coletivo descrito por Jung, o qual, da mesma forma que o inconsciente pessoal, não é reprimido em situação normal. Por isso, sugiro especificarmos sempre a qual das quatro dimensões do inconsciente estamos nos referindo: se ao inconsciente pessoal não reprimido ou ao reprimido, ou ao inconsciente coletivo não reprimido ou ao reprimido. O termo inconsciente coletivo, sem especificar a sua natureza reprimida ou não, deve ser evitado, sob pena de mantermos essa grave indiscriminação num dos conceitos mais preciosos da obra de Jung.

Indiscriminação do conceito de Sombra

Não é por acaso que a obra da Escola Junguiana é tão pequena e insatisfatória com respeito à psicopatologia, pois Jung formulou o conceito de Sombra de modo ambíguo, freqüentemente englobando o normal e o patológico de maneira indiscriminada.

Jung conceituou intuitivamente a Sombra como a disfunção do desenvolvimento normal, lançando a semente da psicopatologia simbólico-arquetípica. De fato, se a Consciência é concebida como a realização do potencial arquetípico, sua Sombra expressaria sua disfunção. No entanto, essa conotação preciosa perdeu-se num labirinto conceitual por Jung desconhecer a formação do Ego e da Consciência pelos arquétipos, o que lhe possibilitaria ver como e quando a

Sombra surge do desenvolvimento normal.

Por ter situado o Ego como o centro da Consciência, e descrito a Sombra abrangendo os símbolos somente do inconsciente pessoal, Jung limitou os símbolos da Sombra ao gênero do Ego, atribuindo os símbolos contra-sexuais ao Arquétipo da Anima, no homem, e do Animus, na mulher. Posteriormente, considerou a Sombra um arquétipo (Jung, 1951, par. 19), o que confundiu ainda mais o conceito, pois não o reviu para nele incluir os símbolos de ambos os gêneros.

Reformulação do conceito de Sombra pela Psicologia Simbólica Junguiana




 

Apoiado na perspectiva simbólico-arquetípica do desenvolvimento normal, quero reformular e ampliar o conceito de Sombra com duas descobertas da Psicanálise: a fixação e os mecanismos de defesa. Numa leitura simbólico-arquetípica da Psicanálise, considero a fixação a principal disfunção da elaboração simbólica, gerando o inconsciente reprimido, cujos símbolos passam a ser expressos por defesas. Se identificamos a Sombra com a fixação e o inconsciente reprimido, seja ele individual ou coletivo, podemos identificar sua origem e perceber sua atuação por defesas. Porque os símbolos e funções estruturantes são sempre relativamente conscientes e inconscientes, pessoais ou coletivos e arquetípicos, o inconsciente reprimido, ou seja, a Sombra, também o é. Por conseguinte, o inconsciente reprimido também se enraíza no inconsciente arquetípico.

Como Freud patologizou a natureza infantil, ou seja, o Arquétipo da Criança, com o estigma de perverso-polimorfo, e usou o mecanismo de defesa da repressão para “normalizá-la” pela sublimação, as defesas passaram a ser empregadas para expressar tanto o desenvolvimento normal quanto o inconsciente reprimido, reconhecidamente patológico. Assim, para empregarmos o importantíssimo conceito de defesa dentro do referencial simbólico arquetípico, necessitamos, primeiro, separá-lo conceitualmente do normal.

Defesas são funções estruturantes arquetípicas

Ao conceituarmos as funções psíquicas como funções estruturantes, conscientes e inconscientes, pessoais ou coletivas, mas sempre arquetípicas, podemos considerar os mecanismos de defesa como funções estruturantes. Como diferenciar, porém, as funções estruturantes que elaboram os símbolos estruturantes para formar a Consciência, das funções estruturantes fixadas, que expressam os símbolos da Sombra no inconsciente reprimido?

Funções estruturantes normais e defensivas

Diante da necessidade de separar conceitualmente o desenvolvimento normal do patológico, ou seja, a Consciência da Sombra, formulei os conceitos de função estruturante normal e função estruturante defensiva, ou, simplesmente, defesa. O que as diferencia não é a função, que é sempre também arquetípica, e sim a fixação ou não, no contexto em que operam (Byington, 2002). Um adolescente, por exemplo, pode liderar criativamente o seu grupo para se opor e questionar medidas autoritárias na escola. Já outro adolescente pode antagonizar seus pais defensivamente por eles exigirem limites razoáveis. A função da agressividade pode ser normal, necessária e adequada ou pode operar de maneira defensiva, destrutiva e inadequada.

Os símbolos e funções estruturantes são arquetípicos e, como todos os arquétipos, são, por princípio, normais. É a fixação que os patologiza, levando-os a fazer parte da Sombra e do inconsciente reprimido.

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Sombra Circunstancial e Sombra Cronificada

A agressividade defensiva do adolescente contra limites razoáveis pode ser reativa a situações passageiras e logo corrigida, caso em que diagnosticamos uma Sombra Circunstancial. Mas pode se tornar permanente e passar a fazer parte de símbolos estruturantes e complexos que originarão um quadro delinquencial, e aí falamos de uma Sombra Cronificada.

Note-se que em ambos os casos a realidade é deformada por defesas e, por isso, os dois tipos de Sombra são patológicos.

Segundo Freud, as defesas se expressam compulsiva e repetitivamente, dando origem à resistência defensiva para sua elaboração. Na Sombra Circunstancial a resistência defensiva não é intensa, mas o é na Sombra Cronificada.

A formulação precisa dos conceitos de processo de elaboração simbólica, inconsciente reprimido individual e coletivo, Sombra e funções estruturantes normais e defensivas é fundamental para separarmos o normal do patológico e os abordarmos lado a lado no processo de individuação. Somente assim podemos resistir à patologização da dimensão psíquica normal, uma das principais defesas que fixam e limitam a Psicologia e o estudo do desenvolvimento simbólico-arquetípico da Consciência na modernidade (gráfico no final).

Como diferenciar as funções estruturantes normais das defensivas

Um grande desafio da abordagem simbólico-arquetípico é identificar e diferenciar as funções estruturantes normais das defensivas. A chave para o diagnóstico diferencial é o reconhecimento das fixações, que resultam em distúrbios em qualquer uma das inúmeras dimensões simbólicas. Pelo fato de a fixação ocorrer dentro do processo de elaboração simbólica, ela não pode ser diagnosticada de maneira estereotipada, de fora para dentro, pelo observador, e necessita sempre ser identificada pela empatia com a disfunção simbólica em função do processo de individuação da pessoa ou do desenvolvimento da cultura em questão. Nessa busca, as aparências enganam, e muito!

O maior inimigo do diagnóstico simbólico da fixação é o redutivismo, que a relaciona e a explica simplesmente pela aparência rara, estranha, sóciodistônica ou por alguma causa imediata que desconsidera a totalidade do Self. Os redutivismos, inclusive a patologização, nos enfeitiçam onipotentemente com a “interpretose”, que é a função estruturante da interpretação atuada de maneira defensiva.

Uma interpretação simbólica que diagnostique a fixação, ou seja, a defesa e a Sombra, necessita da experiência de vida do terapeuta na luta da Consciência com a Sombra, no seu próprio processo de individuação, e da empatia com o símbolo em elaboração no processo de individuação do paciente e da percepção da resistência. O mesmo é válido para a cultura. Para aperfeiçoar a identificação das defesas, é importante o emprego de técnicas expressivas, pois estas realçam a resistência e a natureza da defesa resultantes da fixação.

A elaboração simbólica é o melhor método para o símbolo revelar a sua própria interpretação, que inclui, até mesmo, o fato de ele estar ou não fixado, pois, os símbolos trazem sua própria interpretação nos significados que abrigam e na maneira como reagem à elaboração.

A Sombra é o Mal

Concepção arquetípica da ética junto com a patologia Jung buscou, durante toda sua obra, situar o Mal dentro da natureza de Deus e da totalidade do Self. Coerentemente com a sua perspectiva da polaridade de toda a dimensão psíquica, não concebia a divindade somente boa. Porém, ao confundir o conceito de Sombra, por haver excluído os arquétipos da dimensão pessoal, e não compreender a formação da Sombra e misturá-la com o Bem e o Mal, não pôde descrever a fundamentação da psicopatologia junto com os distúrbios da função estruturante da ética. Assim, ao invés de situar o Mal na Sombra, buscou localizá-lo nos arquétipos, mencionando até mesmo o Mal absoluto como o Mal arquetípico, sem explicar devidamente sua formação (Jung, 1951, par. 19).

Quando abordamos a ética como uma função estruturante presente em toda elaboração simbólica, percebemos que a fixação que cria as defesas e a Sombra é também um conceito especialmente apropriado para descrever a fonte do Mal, pois a função ética também é fixada, em grau maior ou menor, com os símbolos, complexos, funções e sistemas estruturantes. Assim, a Consciência é a expressão normal, enquanto que a Sombra é a expressão defeituosa da elaboração simbólica, ambas coordenadas pelo Arquétipo Central. Quando normal, a elaboração simbólica expressa o caminho do Bem; quando defensiva, o caminho do Mal. Desta maneira, podemos considerar que o Bem e o Mal são de origem arquetípica, como Jung sempre intuiu, sem contudo situá-los com estruturas primárias, como fez Freud com a polaridade instintiva das pulsões Eros e Tanatos.

Conceito unificado de Sombra

A Sombra como a manifestação patológica da elaboração simbólica no âmbito do Self Individual e do Self Cultural, já foi percebida e estudada fartamente como a disfunção dos símbolos e funções estruturantes nos mais variados setores da cultura. Podemos constatar o fenômeno da fixação e da formação das demais defesas nos vários níveis existenciais dentro da perspectiva simbólico-arquetípica através do conceito unificado de Sombra, vista na dimensão religiosa como pecado; na jurídica, como crime; na médica, como sintoma; na ciência, como erro; e na dimensão ética, como o Mal.

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