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Quando nos desconectamos dos sonhos

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De alguma maneira estamos desconectados dos nossos sonhos e, conectados a tantos outros canais.

É interessante que – no início do processo psicoterapêutico – grande parte dos pacientes dizem que não sonham ou não se lembram daquilo (que talvez) sonhem. Como psicoterapeuta isso me chama a atenção e compartilho nesse texto algumas hipóteses para refletirmos.

Os sonhos sempre fizeram parte do imaginário do ser humano; para Kast (2010) “como os sonhos são compreendidos e o confronto com eles revela muito sobre a cultura dominante em questão e sobre a visão de homem que esta transmite”. (p.13)

         Da Babilônia ao Egito, passando pela Bíblia, Grécia e Roma; todas as culturas tiveram lugar garantido para os sonhos, ora visto como mensagens dos deuses, ora de demônios, houve sempre alguém capacitado para decifrá-los. Na Grécia, eles tinham a força para a cura de doenças; as Asclepia [1] eram os templos nos quais rituais de purificação aconteciam afim de que os sonhos mostrassem a cura das doenças ao enfermo.

Com o nascimento das ciências, os rituais e aquilo que tinha alguma conotação religiosa ou não pudesse ser comprovado pelo método científico, foram desvalorizados e renegados ao lugar de mitos, crenças…

Freud (re)inicia a escuta dos sonhos (alguns antes dele também o fizeram, manterei pela importância científica). Os sonhos dos pacientes se tornam a chave para acessar o inconsciente e sua influência no sofrimento humano. O livro A interpretação dos sonhos balançou os alicerces da ciência. Embora acreditasse na interpretação dos sonhos, Freud ficou com este aspecto (interpretação) e, de alguma maneira, isso engessou o método.

Jung e sua escola ampliam o campo para a interpretação dos sonhos (Gallback), os mesmos podem ser vistos também para trazer ao paciente situações criativas, como nos mostra Kast, a função dos sonhos é também permitir que a vida flua, que o sonhador possa sair da estagnação da vida.

Além disso, Jung chama a atenção ao fato do sonho pertencer ao sonhador, ou seja, a interpretação não é estanque, ela flui. Os sonhos trazem conteúdos da vida do sonhador e o sentido é dele; ou seja, um sonho com cruz – por exemplo- pode ter diferentes significados para um ateu e para um cristão.

Temos tantas informações ricas sobre os sonhos, mas volto ao início da nossa conversa, por que nos desconectamos dos nossos sonhos?

Para mim os sonhos fazem parte do processo terapêutico; os pacientes que antes não sonhavam ou não lembravam, de repente se conectam à sua vida onírica. O inconsciente flui, a vida onírica flui. O terapeuta auxilia na observação, questiona e, assim o paciente se percebe. Às vezes os sonhos trazem soluções, às vezes uma sensação de alívio, às vezes um novo movimento na psicoterapia.

Fato é que estamos desconectados de nós mesmos e de nossos sonhos, pois andamos conectados a tantos aparelhos, tanta tecnologia. A maioria de nós, fica por horas conectados às redes sociais, aos aparelhos eletrônicos quando se prepara (?) para dormir. Não refletimos sobre nossa vida, não perguntamos ao nosso inconsciente nossos desafios; assim esquecemos que os sonhos fazem parte do dormir.

Ao amanhecer acordamos agitados, assustados, atrasados e conectados aos aparelhos. Não paramos alguns segundos para nos perguntar se sonhamos, o que sonhamos. E assim a vida segue, sem graça, sem conteúdos imaginativos.

Nossos sonhos não seguem a linguagem tradicional, o tempo lógico; tem todo um simbolismo que diz que devemos parar de investir somente em nosso lado racional, existe riqueza além da razão.

Pare um pouco, perceba seus sonhos. Conecte-se a eles.

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Bibliografia

  • BOSNAK,Robert. Breve curso sobre sonhos. São Paulo: Ed. Paulus
  • FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda, 1987.
  • GALLBACH, Marion R. Aprendendo com os sonhos. São Paulo: Ed. Paulus, 2000.
  • JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Harper Collins Brasil, 2016
  • KAST, Verena. Sonhos A linguagem enigmática do inconsciente.Petropólis: Ed. Vozes,2010
  • www.cerebromente.blogspot.com.br
  • www.facebook.com/janainamoutinho2 (Res-significar)

[1] Asclépio, deus da medicina (www.eventosmitologiagrega.blogspot.com.br)

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