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Elaboração Simbólica da Fixação e da Regressão | Psicopatologia Simbólica – Parte 4

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Elaboração Simbólica da Fixação e da Regressão

Neumann descreveu o importante conceito da centroversão do Ego, no chamado Eixo Ego-Self, que denomino Eixo Ego-Arquétipo Central ou, simplesmente, Eixo Simbólico.

Emprego a centroversão de Neumann como uma função estruturante normal, e considero a regressão uma centroversão defensiva.

Toda a elaboração simbólica de defesas envolve, em maior ou menor grau, uma regressão.

Por existirem defesas menos patológicas, que encobrem outras mais graves, a elaboração de uma fixação dentro da regressão pode desencadear um agravamento do quadro clínico, ativando complexos fixados que não estavam na avaliação diagnóstica.

Por isso, as técnicas expressivas, que intensificam a elaboração simbólica das fixações, necessitam ser usadas com o maior cuidado.

Sonhos do paciente e do terapeuta são de especial valia para compensar uma avaliação exageradamente otimista de um caso mais grave do que se supõe.

Como enfatizou Jung, o primeiro sonho da terapia pode ser prospectivo e, por isso, deve ser considerado na avaliação diagnóstica e prognóstica.

Espectros psicopatológicos de dominância matriarcal e patriarcal dentro dos numerosos quadros sindrômicos da psicopatologia simbólico-arquetípica, dois grandes espectros são importantes para agruparmos perspectivas essencialmente diferentes, que afetam sobremaneira todos os quadros clínicos no diagnóstico, tratamento e prognóstico.

Freud reduziu-os à polaridade histeria-neurose obsessiva, à qual dedicou parte importante de sua obra.

Baseado no referencial simbólico-arquetípico, retomo essa polaridade em função dos dois arquétipos regentes fundamentais, que abrangem, de uma forma ou de outra, toda a psicopatologia e permitem relacioná-la com as neurociências.

Esses espectros não se restringem a nenhum quadro clínico especialmente, pois, apesar de polares, seus arquétipos regentes são fundamentais e participam de toda elaboração simbólica e, portanto, de todos os quadros clínicos.

Não se caracterizam também pela gravidade, porque abrangem todos os graus de doença mental, desde a neurose até a psicose crônica esquizofrênica.

Em todos eles, porém, suas características especiais correspondentes ao Arquétipo Matriarcal e ao Arquétipo Patriarcal se expressam e são da maior importância para a compreensão do sistema defensivo e do tratamento.

A identificação das características destes dois espectros é de especial valia para se perceber a atuação essencialmente diferente das funções estruturantes defensivas em cada um deles.

Espectro psicopatológico de dominância matriarcal

Ao expressar de modo geral a sensualidade e o desejo na personalidade do homem e da mulher, a psicopatologia de dominância matriarcal abrange o que há de mais arcaico e instintivo nas disfunções da personalidade, muitas das quais ligadas à dimensão corporal.

A correspondência dessa sensualidade afetiva e avidez emocional na posição insular da polaridade Ego-Outro permeia essa psicopatologia com relacionamentos binários, muito primordiais, simbióticos, íntimos, eróticos, sensuais e passionais, com intenso apego às funções instintivas.

A dominância da posição insular matriarcal apresenta esse apego em ilhas de emoção e sensualidade, que podem variar muito, como no caso dos quadros dissociativos das personalidades múltiplas.

Essa característica insular permite uma variada combinação de símbolos e funções estruturantes normais e patológicos, que dificultam enormemente o diagnóstico, tratamento e prognóstico destes quadros.

Podemos encontrar setores da personalidade intensamente psicopáticos ou psicóticos junto com setores perfeitamente normais e operativos ou neuróticos.

Tradicionalmente, denomina-se esse quadro de síndrome dissociativa, ou síndrome conversiva ou, simplesmente, histeria. Desde Hipócrates, a imagem de um útero desgarrado, circulando a esmo pelo corpo, é muito representativa destas personalidades, quando se trata de mulheres.

Na prática clínica, o enfoque simbólico-arquetípico permite uma compreensão mais ampla e profunda de homens e mulheres com esses sintomas, sobretudo porque a plasticidade de suas manifestações adapta-se às épocas históricas e aos costumes.

Transformação das somatizações

Os quadros clínicos de dominância matriarcal mudam tanto, que muitos psiquiatras chegam a afirmar que a histeria desapareceu dos seus consultórios, sem perceberem que no lugar das paralisias e conversões múltiplas das neuroses, surgiram os quadros depressivos, fobias, inclusive distúrbios alimentares, do pânico, de adição e de atuação psicopática, entre outros.

A dominância matriarcal na relação terapêutica lhe dá um colorido particular, pois a intuição empática, e até mediúnica, que lhe é característica, adivinha e desempenha dramaticamente o quadro clínico que está em moda e que assegurará ao paciente atenção, valorização, dependência, assistência permanente e acolhida emocional, expressando-se defensivamente pela sedução para ocultar núcleos de carência afetiva, vivências de abandono, auto-estima baixa e até mesmo de sexualidade reprimida.

Filmes famosos ilustram este espectro, como Zelig, de Woody Allen; Um corpo que cai, de Hitchcock; Tom e Viv, sobre a vida conjugal de T.S. Eliot; Camille Claudel, que retrata seu romance com Auguste Rodin, e também A Jornada da Alma, sobre a vida de Sabina Spielrein e sua relação com Jung.

Quando o espectro de dominância do Arquétipo Matriarcal ferido relaciona-se com um aspecto repressivo do Arquétipo Patriarcal, ele geralmente propicia e até busca características sadomasoquistas, nas quais o paciente desempenha o papel de vítima masoquista, que atrai, seduz, ataca e desmoraliza o seu agressor, mesmo que seja às expensas da sua própria saúde.

Durante a Idade Média, distúrbios de dominância matriarcal levavam mulheres a atos considerados, na época, bruxaria, que culminavam em prisões, torturas e confronto com juízes nos tribunais da Inquisição.

Com o declínio do poder do inquisidor e a ascensão do poder do médico neurologista, as bruxas “transformaram-se” em paralíticas, tratadas com atenção e acolhimento, mas também com choques elétricos nos membros paralisados.

Só o espetáculo de chegarem aos consultórios numa cadeira de rodas, já era metade do quadro clínico.

A psicopatologia com predominância do espectro matriarcal é extraordinariamente sóciosintônica pela própria plasticidade insular multifatorial e imitativa deste arquétipo.

Para muitos que a identificaram com paralisias e múltiplas somatizações, que expressam defesas neuróticas ou psicóticas, ela praticamente diminuiu e quase desapareceu na segunda metade do século vinte.

Mas, é preciso reconhecer o seu reaparecimento na clínica através da defesa psicopática, devido à sua capacidade de metamorfose camaleônica.

A interpretação simbólico-arquetípica vê neste quadro uma transformação permanente, e não um desaparecimento. O Self Cultural do Ocidente, no final do século dezenove e no início do século vinte, apresentava uma grande dominância do Arquétipo Patriarcal com fortes características repressivas.

Os quadros conversivos descritos nessa época configuram-se praticamente dentro da função estruturante da repressão coordenada defensivamente pelo Arquétipo Patriarcal.

O próprio símbolo da paralisia é uma boa metáfora para expressar essa repressão no nível neurótico ou psicótico, como foi o caso de Anna O.

Com o enfraquecimento do padrão patriarcal repressivo no pós-guerra, aconteceu uma verdadeira virada para o pólo oposto, uma enantiodromia cultural patriarcal-matriarcal, favorecendo o resgate do Arquétipo Matriarcal reprimido, acompanhada por um grande impulso na implantação do Arquétipo da Alteridade na Consciência Coletiva.

Espectro de dominância matriarcal e Sombra da Alteridade Devido à sua característica dialética da polaridade Ego-Outro, que propicia o encontro democrático entre as polaridades, o Arquétipo da Alteridade, quando sofre fixações e outras defesas, forma uma Sombra que atua o desencontro, o pseudo-encontro, ou a falsificação do encontro.

Dentro dessas atuações defensivas está a corrupção dos costumes, em nome da liberdade; a demagogia que tomou conta da mídia planetária, em nome da democracia; e o fingimento do amor e da auto-ajuda em nome da solidariedade.

Nessa rede arquetípica sombria, o espectro matriarcal ferido modificou seus quadros clínicos, que passaram a incluir dependências, distúrbios alimentares, de ansiedade e depressivos.

Quem percebe essa variação dentro do referencial psicopatológico simbólico-arquetípico, vê que os distúrbios de dominância matriarcal não só não diminuíram, como aumentaram extraordinariamente com a maior liberação do Arquétipo Matriarcal, dentro da democracia propiciada pela alteridade.

A grande utilidade de pensarmos a psicopatologia simbólico-arquetípica dentro do espectro de dominância matriarcal não está somente na compreensão abrangente dos seus quadros clínicos dentro do processo de individuação, mas também no tipo de relacionamento terapêutico indispensável para apreendê-lo.

Esta aliança terapêutica deve estar alicerçada nas funções do sentimento e da intuição. A empatia para com o sofrimento humano é a principal condição para se restabelecer um relacionamento produtivo (raport) e apreender pela sensação e pelo pensamento a organização dos sistemas defensivos destes quadros clínicos.

Sem isto, a dimensão matriarcal ferida pela incompreensão, rejeição, prepotência e abandono continua a atuar de forma sócio-sintônica, absorvendo e neutralizando defensivamente, pela complementaridade, as várias formas de terapia, principalmente, hoje, a terapia psicofarmacológica e a terapia cognitivo comportamental.

Espectro psicopatológico de dominância patriarcal

Sendo o arquétipo da organização, o Arquétipo Patriarcal é dotado de grande capacidade de abstração, que lhe permite ser triádico (ternário) e articular coerentemente os dois pólos das polaridades no pensamento.

Isto lhe confere o poder lógico associativo com o qual facilmente estrutura sistemas que, quando fixados e defensivos, formam uma Sombra com enorme capacidade de abrangência, coerência e repressão.

Os quadros repressivos de dominância patriarcal na dimensão erótica, religiosa, política e até artística e científica ilustram sua extraordinária abrangência.

A organização patriarcal ocorre no universo abstrato verbal característico do funcionamento da córtex cerebral, principalmente do hemisfério esquerdo, e seus bilhões de circuitos associativos.

Contrariamente à capacidade de apego, fusão e simbiose sensorial e sensual do espectro de dominância matriarcal e suas disfunções, a capacidade de desapego sensorial do Arquétipo Patriarcal enseja grande apego ao poder de controle racional, cuja função estruturante mais sombria é a racionalização.

Se o pensamento lógico e o poder de organização e controle são as principais funções do espectro patriarcal, a racionalização é sua maior defesa, que falsifica o pensamento, distorcendo-o e ocultando seu erro com todos os recursos da inteligência.

O distúrbio matriarcal adoece nossa relação com o mundo através dos sentidos; o patriarcal, através das disfunções do pensamento, como na intolerância sistêmica das ideologias preconceituosas.

Um dos extremos da disfunção da organização patriarcal é o distúrbio obsessivocompulsivo, no qual o quadro clínico se caracteriza pela estruturação de um sistema de defesas para controlar uma idéia fixa ameaçadora.

Trata-se de um quadro policialesco kafkaniano, no qual o pensamento defensivo é encarregado compulsivamente de controlar a Sombra, sem jamais consegui-lo, como bem ilustra o sofrimento de Sísifo, punido por querer, obsessiva e inutilmente, controlar a morte.

Essa exacerbação do controle da conduta pode ocorrer no enfraquecimento orgânico por comprometimento dos núcleos da base do cérebro ou ser decorrente de condições psicodinâmicas defensivas com intensa repressão característica do autoritarismo (Byington, 1996).

O conhecimento da psicodinâmica repressiva através de um Superego patriarcal maligno é fundamental para se elaborar esta condição.

Outro extremo desse espectro encontra-se no autismo, sobretudo na síndrome de Asperger ou autismo com inteligência desenvolvida, no qual a limitação orgânica do Arquétipo Matriarcal é compensada por uma grande exacerbação patriarcal, que busca substituir abstratamente a sensualidade limitada e, às vezes, até mesmo ausente.

É preciso não confundir esse autismo estrutural com a defesa autista, que acompanha muitos quadros repressivos e que geralmente expressa o “ódio frio”, produto da agressividade reprimida, que necessita ser psicodinamicamente elaborado.

A função organizadora patriarcal, num dos seus aspectos defensivos importantes, expressa-se pelas funções da superexigência e da culpa, que permeiam muitos quadros psicopatológicos.

A organização moral social patriarcal é a principal origem do Superego, designando aqui a moral coletiva. O Superego encontra-se defensivamente atuante nos quadros de stress e de workaholismo.

Nos quadros depressivos, precisa ser elaborado junto com a medicação, por ser a principal causa do suicídio, pois a medicação tende a liberar a emoção de dominância matriarcal que, por sua vez, exacerba a intolerância patriarcal que desencadeia a atuação suicida.

A imensa abrangência deste espectro psicopatológico torna-o presente em praticamente todas as organizações socias, políticas e religiosas de todas as culturas.

Abordaremos aqui sucintamente essa disfunção sistêmica defensiva no próprio uso do Manual Diagnóstico DSM-4R, devido à sua importância internacional na abordagem da doença mental.

Como vimos, a dissociação subjetivo-objetivo formou grave fixação e disfunção do Self Cultural no Ocidente, excluindo o subjetivo e centralizando o conhecimento científico na objetividade.

A Psicologia empreendeu o resgate da subjetividade nos séculos dezenove e vinte, com grandes descobertas, mas luta até hoje contra a sua patologização defensiva.

A Medicina, porém, permaneceu dentro dessa dissociação materialista, restrita a tal ponto à objetividade, que negou, e ainda hoje nega em grande parte, a própria existência da subjetividade na relação com a doença e com o doente. Essa defesa limita grandemente a Neurologia e a Psiquiatria.

Com toda sua patologização defensiva do subjetivo e confusão conceitual entre o normal e o patológico, a psicodinâmica desenvolvida no século vinte é um oásis teórico dentro da Medicina e da Psiquiatria.

Ao estudarmos a Sombra da Psiquiatria moderna dentro da psicopatologia do espectro de dominância patriarcal, percebemos que seu maior distúrbio metodológico sistêmico reside na sua maneira de formular, diagnosticar e tratar a doença mental.

O DSM-4R é o manual diagnóstico da Psiquiatria americana, que, na globalização, transformou-se, junto com o CID-10, num dos grandes sistemas diagnósticos da saúde mental.

Baseado principalmente na Psiquiatria descritiva e sistematizadora de Kraepelin, o DSM-4R reúne sintomas em quadros clínicos e diagnósticos.

O problema não é ele em si, pois serve como referencial, e vem sendo aperfeiçoado para o estudo epidemiológico no nível planetário.

A Sombra do DSM-4R é ter se tornado um recurso de primeira ordem para instrumentalizar a dissociação subjetivo-objetivo na Psiquiatria, incentivando a robotização de pacientes e diagnósticos, transformando sintomas em doenças, como se fossem quadros clínicos exclusivamente objetivos.

Desconsidera-se a subjetividade, a individualidade, a psicopatologia psicodinâmica consciente-inconsciente, a problemática pessoal do terapeuta com sua própria Sombra e a relação transferencial terapeuta-paciente.

A compreensão do uso defensivo do DSM-4R dentro do espectro psicopatológico de dominância patriarcal parece-me da maior importância para situarmos a Sombra da Psiquiatria, junto com a Sombra materialista da Medicina.

Medicação psicofarmacológica e psicopatologia simbólico-arquetípica

O desenvolvimento extraordinário das neurociências e da psicofarmacologia dá ao médico poderosos instrumentos químicos para alterar o funcionamento psiconeurológico.

Como toda função estruturante, a terapia psicofarmacológica pode ser normal ou defensiva. Quanto maior a abrangência de uma função estruturante, mais defensiva e maléfica pode ser sua Sombra.

Essa compreensão se aprofunda quando admitimos que o fármaco também é símbolo estruturante formado por componentes subjetivos e objetivos.

Quando se administra um antidepressivo, que bloqueia a recaptação da serotonina, lida-se com um fármaco que tem uma fórmula química e um significado emocional, seja como placebo, seja como modificador de uma ou mais emoções.

Ao alterar a emoção de um paciente, é responsabilidade do médico elaborar o significado dessa alteração junto com o paciente, sob pena de torná-lo um farmacodependende.

O médico não pode esquecer que qualquer psicofármaco situa-se hoje entre a pressão mercadológica para o consumo e o narcotráfico, ambos sombriamente interessados na farmacodependência.

Função estruturante terapêutica farmacológica normal

A função estruturante terapêutica farmacológica normal é o resultado do processo científico de anos de pesquisa e de investimentos bilionários, que trazem o alívio do sofrimento e a cura de incontáveis casos de doença mental.

Função estruturante terapêutica farmacológica defensiva A função estruturante terapêutica farmacológica defensiva, junto com a drogadição, é um dos grandes malefícios da sociedade moderna.

Reconheçamos que a maioria dos médicos, principalmente cardiologistas e ginecologistas, estão receitando ansiolíticos e antidepressivos para combater sintomas sem compreender sua psicodinâmica.

Além disso, muitos psiquiatras, hoje, não acham mais importante fazer análise para conhecer a sua Sombra iatrogênica.

Observo que muitos psiquiatras clínicos não trabalham mais com a relação transferencial nem com a psicodinâmica dos processos inconscientes, dentre as quais está a contratransferência defensiva.

Aparentemente, a elaboração simbólica dos sintomas é cada vez menos exercida na Psiquiatria clínica, levando-nos a pensar que estamos diante de uma regressão cultural do conhecimento da subjetividade já adquirido pela ciência.

Diminuição da psicodinâmica no ensino da Psiquiatria No ensino da Psiquiatria, a perspectiva psicodinâmica parece estar diminuindo, enquanto a medicação sem elaboração simbólica dos sintomas aumenta intensamente.

Vejo prevalecer hoje, na Psiquiatria, a substituição cada vez maior da psicodinâmica simbólica pela transformação do sintoma em doença sujeita à medicação farmacológica imediata, coadjuvada pela remoção diretiva dos sintomas através da terapia cognitivo-comportamental.

Essa tendência é ilustrada nos cursos sobre distúrbios de humor e em congressos de Psiquiatria, entre nós e no exterior, concentrados em diagnóstico e tratamento, nos quais faltam palestras sobre psicodinâmica simbólica inconsciente e chega-se ao extremo de sequer mencionar as funções estruturantes normais da tristeza e do amor no diagnóstico diferencial da depressão clínica.

Possivelmente, esta atitude é uma conseqüência da influência hedonista da civilização de consumo, na qual o sofrimento é evitado em troca de bens de consumo, dentre os quais, o psicofármaco.

Crescimento das multinacionais de medicamentos

O crescimento das multinacionais de medicamentos e grandes verbas de propaganda e marketing, tem grande influência no aumento do consumo indevido de psicofármacos.

Tenho lido, inclusive, entrevistas de psiquiatras sobre a “descoberta da depressão como doença”, que “coincidem” com o lançamento de novos medicamentos contra depressão.

Concluindo

O que acontece com os pacientes

Tenho observado que a atitude de medicar o sintoma de ansiedade ou depressão diagnosticados como doença, sem elaboração, a médio prazo reforça as defesas ansiosas e depressivas dos pacientes, produzindo um estado de alienação e, não raro, de dependência iatrogênica à medicação.

Pouco importa, às vezes, se não ocorre efeito químico, pois, freqüentemente, a dependência medicamentosa do efeito placebo é ainda mais poderosa para a criação da dependência farmacológica.

A perspectiva psicopatológica simbólico-arquetípica, no que se refere à psicofarmacologia, nos mostra um quadro cultural psiquiátrico muito criativo, mas também muito sombrio, médica e culturalmente preocupante.

Por tudo isso, pacientes só devem ser medicados depois de se elaborar com eles seus sintomas e acompanhar o tratamento com a análise da transferência e a compreensão simbólica dos fármacos em seus significados de produtos químicos e placebos, desejáveis a curto prazo mas, geralmente, indesejáveis a médio prazo.

Referências Bibliográficas

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Carlos Amadeu Botelho Byington, falecido em 10 de fevereiro de 2019, foi médico psiquiatra e analista junguiano. Nascido em São Paulo, cresceu no Rio de Janeiro, onde se formou em Medicina. Especializou-se em Psiquiatria e Psicanálise, e, em 1965, graduou-se pelo Instituto Jung, em Zurique. Retornou ao Brasil e fundou, com outros colegas, a Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, que formou até 2005 noventa analistas, e a Sociedade Moitará, para o estudo de símbolos da cultura brasileira, mais tarde incorporada à SBPA. Foi presidente, diretor de ensino, supervisor e coordenador de seminários na SBPA. Além de ministrar inúmeros cursos e palestras no Brasil e no exterior, ensinando e divulgando a obra de Jung, Carlos Byington desenvolveu conceitos próprios, que originaram a Psicologia Simbólica.

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