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Análise de Filmes: Frozen – O Reino do Gelo

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Frozen: O Reino do Gelo 

Você não se identifica com nenhuma princesa da Disney por elas serem muito passivas e sonharem com o príncipe encantado? A animação Frozen mostra uma nova forma de feminino.

A animação da Disney Frozen, de 2013, é levemente baseada no conto de fadas A Rainha da Neve de Hans Christian Andersen, e relata a história de duas irmãs Elza e Anna, princesas do reino de Arendelle.

Elza e Anna possuem personalidades diferentes. Anna é alegre, extrovertida e tem como objetivo encontrar o amor de sua vida; já Elza é comedida, introvertida e quer apenas aprender a lidar com seus medos, para ser aceita.

As duas irmãs do filme apresentam atitudes bem marcantes e opostas que exemplificam claramente atitudes que Carl Jung denominou de introversão e extroversão.

Para Carl Jung extroversão e introversão mostram tipos gerais de atitudes, e elas se distinguem pela direção de interesse e movimento da libido, ou seja, da energia psíquica. Em outras palavras, a atitude da consciência será determinada pela direção de interesse em relação ao objeto.

Por objeto, entendemos tudo aquilo que não é o sujeito e que não se liga a pessoa e seu mundo interior.

Os introvertidos são aqueles que hesitam, recuam e enxergam o contato com o objeto com receio e como se fosse algo pesado, massacrante. O mundo externo os desgasta e isso faz com que ajam de forma a atribuir ao objeto um superpoder.

Já os extrovertidos partem rápido e de forma confiante ao encontro do objeto. Aparentemente o objeto tem para ele uma importância enorme, mas no fundo o objeto não tem tanto valor assim e por isso é necessário aumentar a sua importância.

Anna caracteriza bem a extroversão, jovial, se intromete em tudo e vive em busca relacionamentos, principalmente com sua irmã a introvertida Elza para qual o mundo externo é assustador. Sua personalidade é mais grave e desconfiada que a de Anna. Seus medos a assolam levando-a a reclusão. Ela busca se precaver de qualquer dispêndio de energia e acredita que o mundo externo enxerga seus dons como malignos.

Elza possui um dom especial – o de congelar tudo a sua volta. Apesar de ser poderosa, ela não possui controle sobre seus poderes o que a torna perigosa para quem convive com ela, principalmente para sua irmã Anna.

Mediante esse fato os pais da menina decidem isolá-la do mundo.

Os pais de Elza fazem aqui o que a maioria dos pais diante de um filho “diferente” faz. Mesmo com boas intenções, muitos preferem isolar a criança ao invés de auxiliá-la com seus dons.

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Essa atitude fez com que Elza reprimisse quem ela é realmente, o que a tornou mais perigosa ainda, pois seu poder não está sob controle.

Quando os pais das meninas morrem, Elza por ser a mais velha deve assumir como o trono como rainha. Nesse instante a moça que esteve trancafiada tem de sair e enfrentar seus temores.

A morte dos pais mostra um aspecto simbólico importante para o desenvolvimento da psique. Enquanto as leis e normas impostas pela família e sociedade não morrerem dentro de nós, não é possível atender o chamado da própria alma.

Elza então se vê diante de seus poderes incontroláveis e o medo toma conta de seu ser. Diante disso, ela foge para as montanhas e ganha a liberdade. Entretanto ela não está livre, pois ainda não tem controle sobre seus poderes.

A verdadeira liberdade só ocorre quando assumimos a responsabilidade por nós mesmos, pelos nossos dons e defeitos.

É claro que a solidão nos auxilia a confrontar nossos medos e a entrar em contato com nosso eu mais profundo. Todavia, no processo de individuação devemos nos tornar nós mesmos, mas sem se isolar do mundo. O individuo deve colocar seus dons individuais a serviço do coletivo.

E nesse instante surge Anna se intrometendo e perturbando a aparente paz da irmã. Ela é seu aspecto sombrio, extrovertido, que a chama para a responsabilidade e que a tira do seu papel de vitima.

A vítima sempre possui dentro de si o algoz. Enquanto Elza se coloca como vitima perseguida, seu algoz interno acaba machucando aqueles que ela mais ama.

Elza além de introvertida se assemelha as deusas virgens da Mitologia Grega. Por virgem se entende que a deusa era completa em si mesma e não busca relacionamentos amorosos para se completar. São elas: Atena, Artemis e Héstia.

Por ser introvertida, podemos aproximar Elza de Héstia, o que é muito interessante, pois Héstia é uma deusa do fogo, da lareira e do lar.

Ilustração da mitológica deusa da lareira Héstia.

Mas como uma princesa que produz gelo pode se assemelhar de uma deusa do fogo?

Bem somente pelo fogo provocado pelo amor incondicional pela sua irmã que Elza aprende a controlar seus poderes. É indo para o oposto que ela encontra o equilíbrio. Entrando em contato com sua Héstia interior, ou seja, seu fogo, seu calor, que ela consegue derreter o gelo em que seus sentimentos se encontravam.

Mas a característica mais marcante nesse filme e que o diferencia dos demais contos de fadas com heroínas, é que a redenção de Elza e Anna ocorre quando ambas demonstram amor verdadeiro uma pela outra.

Em nossa sociedade infelizmente existe um estereótipo de que as mulheres não são companheiras. A metáfora de Frozen não serve apenas para irmãs de sangue, mas também para irmãs de coração. Anna é traída pelo seu primeiro amor e Elza é julgada pela sociedade por ser diferente e poderosa. Seus próprios pais foram incapazes de ajudá-la a lidar com seus dons e a incentivaram a ser normal e adaptada a uma sociedade preconceituosa. Sua irmã é a única que não a julga e não a teme e devido esse amor e aceitação plena da forma de ser uma da outra que ocorre a salvação delas e do reino.

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11 COMENTÁRIOS

  1. Lendo o texto, pude fazer uma autorreflexão.
    Realmente, cresci com a ideia de que mulheres tem inveja uma das outras. Que triste!
    Grata de coração pelo texto!

  2. Gostei muito desta análise!!!! Acho perfeito sua fala :”Em nossa sociedade infelizmente existe um estereótipo de que as mulheres não são companheiras. A metáfora de Frozen não serve apenas para irmãs de sangue, mas também para irmãs de coração.” Somos instigadas na crença que as mulheres são competitivas e as que buscam o poder – normalmente são fálicas e impiedosas- o que realmente em muitas situações acontece! Mas carregamos, e não podemos esquecer, nossa ancestralidade matriarcal onde todas se uniam para um bem maior. Parabéns Hellen! Que a contemporaneidade, nesta fase de grande transformação, traga novas perspectivas para o universo feminino para que possamos potencializar um mundo melhor!

  3. Também gostei do texto, ela descreve bem nossa juventude tanto introvertida como extrovertida, ainda perdidas nesse mundo, no que fazer, e o porquê fazer. Só a máxima deixada por Jesus Cristo, ainda está presente mas precisa ser explorada dentro de cada um. O Amor.

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